segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tempranillo, uma uva, doze nomes, mil segredos


Dona de uma riqueza excepcional de variáveis nominais, a Tempranillo é a uva nobre da península ibérica por excelência, reconhecida internacionalmente como uma casta autóctone da Espanha. A etmologia da palavra Tempranillo faz referencia a uva temprana, que amadurece antes das demais variedades viníferas também de origem mediterrânea como a Garnacha, a Macabeo, Malvasía ou mesmo das de origem francesa como a Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Pinot Noir. O amadurecimento precoce é uma característica das castas que são cultivadas nas regiões de temperaturas mais baixas e que devem acelerar seu ciclo vegetativo antes da chegada do frio outonal. Há uma hipótese que sua origem seja borgonhesa, daí sua similaridade vegetativa com a “Pinot Noir”, embora os vinhos concebidos tanto com uma como com a outra variedade sejam muito diferentes. Os monges de Cluny, peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela durante séculos, podem ter sido os introdutores desta variedade, embora tal suposição tenha contra si, o fato de na atualidade não existir castas Tempranillo nas regiões vitivinícolas do centro da Europa, enquanto o cultivo se estendeu por todas as regiões da Espanha.

Senhora de muitos nomes e reconhecida como uva emblemática, a Tempranillo é encontrada nas mais diversas regiões vitivinícolas da Espanha, com especial menção a Rioja, onde ocupa mais de sesenta por cento ( 60 % ) do total da superfície de cultivo, cerca de 31.000 hectáres.Cada zona produtora defende seu nome como parte de sua política de diferenciação, embora isto dificulte e leve a um menor reconhecimento da Tempranillo no mercado internacional e gere certa confusão para o consumidor. Também é a uva principal em Ribera del Duero, onde é conhecida como Tinto Fino ou Tinto del País. De idêntica forma recebe a mesma denominação em Burgos, Soria e Valadollid. Em Zamora, onde se encontra uma das mais promissoras regiões da Espanha, – a D.O Toro, é conhecida como Tinta de Toro. Na Catalunha a Tempranillo recebe nominação de “Ull de Llebre” e é encontrada na maioria das Denominações de Origem, como Penedés, Costers del Segre, em Terra Alta e também na D.O. Tarragona.
Em La Mancha e em Valdepeñas se conhece como Cencibel, variante nominal ao qual devem ser acrescentados Chinchillana ou Escobera, em Badajoz; Tinto de Madrid em Toledo, Santander e Salamanca e Vil de Aranda em Burgos. Acrescentar , sempre para a mesma uva, as denominações: Tinta Roriz ( Douro – Portugal ),Tinta Aragonesa ( (Alentejo – Portugal ), Arinha Tinto ( Dão- Portugal ), Tinta de Santiago ( Setúbal – Portugal ) Garnache de Logroño ( França ) e Valdepeñas (Valle de San Joaquín – California (EEUU).

Como características marcantes a Tempranillo possui a virtude das castas “frías” que suportam bem o envelhecimento em madeira : boa estrutura de taninos, com a particularidade que seus taninos se arredondam com rapidez; cor e acidez persistentes além de manter os aromas e sabores frutados – groselhas, cerejas, amoras. A uva apresenta um comportamento algo distinto em cada região onde é cultivada e desta forma os vinhos dela originados mostram personalidades diferentes e mistérios difíceis de desvendar. De uma maneira geral, os melhores vinhos de Tempranillo são obtidos em zonas com alta insolação e com temperaturas noturnas muito frias. Nestas condições se alcançam graduações alcoólicas mais altas e uma boa acidez, o que permite obter vinhos de muito alta qualidade. Assim origina vinhos de grande qualidade, bem equilibrados e aromáticos, de acidez e graduação médias, pouca cor, embora muito estáveis, com moderada acidez frutal, agradável perspectiva aromática e excelente capacidade de interação com o carvalho. Em Ribeira del Duero com o nome de Tinto Fino é a responsável pelo mítico Vega Sicília Único, do enólogo Xavier Ausas, o novíssimo Pingus do famoso Peter Sissek, o maravilhoso Alíon e muitos outros grandes vinhos que enaltecem essa Denominação de Origem.Na Rioja, como Tempranillo, produz desde os grandes vinhos tintos que fizeram e fazem a fama da região ( Marqúes de Riscal, Conde de Valdemar, Baron de Ley, Baron de Ona, Lan Reserva, etc ) até verdadeiras jóias da nova enologia ibérica como é o caso do Cirsion e do Calvário. Não importa com qual nome seja conhecida, o essencial é a magia que esta uva de doze nomes encerra e os mil segredos capazes de guiar o homem para Deus.

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